O documento apresentado pelo governo é mais uma carta de intenções do que um plano digno desse nome. Tomara que algo mais consistente esteja sendo elaborado. Tomara.
A ausência da data para o início da campanha tem duas razões. A primeira é que os laboratórios que desenvolveram a vacina ainda apresentaram à Anvisa a documentação que atesta a eficiência de seus medicamentos — e, sem a comprovação, é temerário aprovar o que quer que seja. A outra é a inexistência, até o momento, de uma proposta firme de compra por parte do governo das vacinas a que poderá ter acesso.
AGLOMERADOS URBANOS — Quando houver uma definição em relação à data, os profissionais da Saúde e os idosos, que têm recebido tratamento prioritário nos países onde a campanha já teve início, serão os primeiros a receber o imunizante. Esse é, sem dúvida, o ponto mais concreto do plano. Daí por diante, nada está definido com precisão, nem mesmo os grupos que deverão receber a vacina depois que os profissionais de Saúde e os idosos estiverem imunizados.
Cidades como o Rio e os municípios vizinhos, onde boa parte da população está exposta a condições que facilitam a propagação da doença, deveriam ter a preferência. E as pessoas que “se aglomeram” por necessidade, no transporte público sempre lotado e ineficiente, deveriam puxar fila. Outro critério que poderia ter sido adotado, e que também colocaria o Rio adiante de outras cidades, seria iniciar a campanha pelos lugares em que a rede pública de Saúde já não dá mais conta de oferecer tratamento digno às pessoas infectadas.
HOSPITAIS DE CAMPANHA — Dados da Secretaria Estadual da Saúde mostram que, apenas na capital, cerca de 500 pessoas que apresentam quadros que exigem internação não conseguem vagas nos hospitais. É triste. Esta coluna defendeu, no artigo intitulado “Crônica do Descaso Anunciado” publicado no dia 2 de agosto, que os hospitais de campanha bancados com dinheiro público se tornassem “equipamentos permanentes de atendimento à população mais vulnerável do Rio”. Isso, naturalmente, não aconteceu. Se tivesse, não haveria a carência de leitos que se vê agora…